
No atual cenário corporativo, a automação é sinônimo de eficiência. Aplicações em nuvem, pipelines de CI/CD, scripts de automação e bots de RPA são a espinha dorsal da agilidade e da transformação digital. No entanto, por trás dessa eficiência, cresce um risco silencioso e exponencial: a explosão das identidades não humanas (NHIs).
Enquanto as equipes de segurança concentram esforços em proteger usuários humanos, um exército de identidades de máquina opera 24/7, com vastos privilégios e, muitas vezes, sem qualquer supervisão.
O alerta é claro: dados recentes indicam que, para cada 1.000 usuários humanos em uma organização, existem cerca de 10.000 credenciais não humanas. Essas contas de serviço, chaves de API e tokens de automação tornaram-se o vetor de ataque preferido para invasores. Elas são difíceis de rastrear, raramente são monitoradas e, quando comprometidas, oferecem um caminho direto para os dados mais críticos da empresa. Evitar que uma credencial silenciosa comprometa todo o sistema tornou-se a nova fronteira da cibersegurança preventiva.
O que são identidades não humanas e por que elas são o ponto cego
Identidades não humanas são entidades de software que precisam de autenticação e autorização para acessar recursos, assim como os humanos. Elas são o elo que permite que os sistemas modernos conversem entre si.
A lista inclui:
Contas de serviço: Usadas por aplicações, bancos de dados e sistemas operacionais para executar tarefas em segundo plano.
Chaves de API: Permitem a comunicação e troca de dados entre diferentes microsserviços e plataformas de terceiros (SaaS).
Bots (RPA/Chatbots): Softwares que automatizam tarefas repetitivas e interagem com outros sistemas.
Scripts e ferramentas de DevOps (CI/CD): Identidades usadas para construir, testar e implantar códigos automaticamente.
Dispositivos IoT: Sensores e dispositivos conectados que enviam e recebem dados.
O problema central é que as ferramentas tradicionais de Gestão de Identidade e Acesso (IAM) foram projetadas para pessoas. Elas se baseiam em logins interativos, senhas complexas e Autenticação Multifator (MFA) — mecanismos que não funcionam para uma identidade de máquina autônoma.
O risco exponencial: A proporção de 10.000 para 1
A escala é o primeiro desafio. A proliferação de ambientes multicloud e arquiteturas de microsserviços fez com que o número de identidades não humanas crescesse exponencialmente, superando as identidades humanas.
Esse volume cria um cenário de risco único por três motivos:
Invisibilidade (Shadow NHIs): Muitas dessas identidades são criadas por desenvolvedores "na sombra", fora do controle do time de TI ou segurança. Elas ficam esquecidas no ambiente, muitas vezes com credenciais codificadas diretamente em scripts (hardcoded secrets).
Privilégios excessivos: É comum que contas de serviço recebam privilégios de administrador para garantir que funcione, violando o princípio do privilégio mínimo. Se um invasor captura essa conta, ele ganha acesso irrestrito.
Credenciais estáticas: Diferente de humanos, que trocam senhas, as identidades não humanas frequentemente usam chaves estáticas que nunca expiram. Uma chave de API vazada há dois anos pode continuar sendo uma porta de entrada válida hoje.
Um invasor que obtém acesso a uma dessas credenciais silenciosas pode realizar reconhecimento, mover-se lateralmente pela rede e exfiltrar dados sem disparar os alertas tradicionais focados em comportamento humano.
3 passos essenciais para mitigar riscos de identidades não humanas
Proteger identidades não humanas exige uma mudança de paradigma: sair da gestão manual e reativa para uma abordagem automatizada e preventiva. A estratégia se divide em três áreas de mitigação cruciais.
Discovery e postura: O desafio de enxergar o invisível
O primeiro passo é responder à pergunta: "Onde elas estão e o que podem fazer?". Não se pode proteger o que não se vê. O discovery é, talvez, o maior desafio da gestão de identidades não humanas, pois elas residem em todos os lugares: no código-fonte, em arquivos de configuração na nuvem, em ferramentas de DevOps e em sistemas legados.
Como mitigar:
Inventário automatizado: Implementar ferramentas especializadas que possam escanear continuamente os ambientes (on-premise e cloud) para descobrir e catalogar todas as identidades não humanas e onde suas credenciais estão armazenadas.
Análise de postura: Após descobri-las, é vital analisar sua postura de segurança. Elas têm privilégios excessivos? A credencial está codificada em texto plano? A conta está inativa há meses?
Princípio do Privilégio Mínimo (PoLP): Com o inventário em mãos, as equipes devem aplicar rigorosamente o PoLP, garantindo que cada conta de serviço tenha apenas as permissões estritamente necessárias para executar sua função específica.
Resposta rápida e rotação: Quebrando o ciclo de vida do risco
Muitas das identidades não humanas mais perigosas não são as suas, mas as de seus fornecedores. Um risco crescente é o comprometimento da cadeia de suprimentos (supply chain), onde um invasor rouba uma chave de API de um serviço de terceiros e a utiliza para atacar sua empresa.
Se uma chave de API vaza, o tempo de resposta é crítico. No entanto, se essa chave estiver hardcoded em dezenas de aplicações, a rotação manual é inviável e pode levar dias, dando ao invasor tempo de sobra.
Como mitigar:
Gestão centralizada de segredos (Vaults): A solução é parar de codificar segredos em scripts. As credenciais devem ser armazenadas em "cofres" (vaults) centralizados e acessadas pelas aplicações apenas em tempo de execução.
Rotação automatizada de credenciais: Com um cofre, a rotação se torna possível. A política de segurança deve ditar que chaves de API e senhas de contas de serviço expirem e sejam rotacionadas automaticamente em intervalos curtos (horas ou dias, em vez de anos).
Playbooks de resposta a incidentes de terceiros: A empresa precisa ter um plano claro para quando um parceiro de negócio anuncia uma violação: como revogar e rotacionar instantaneamente as chaves associadas a esse fornecedor?
Detecção de anomalias: Separando o normal do malicioso
O terceiro pilar é o monitoramento contínuo. Como saber se uma conta de serviço legítima foi comprometida e está sendo usada por um invasor? A resposta está na análise de comportamento.
Uma identidade de máquina é previsível. Um script de backup, por exemplo, deve sempre acessar os mesmos servidores, na mesma janela de tempo, e realizar as mesmas ações. Um invasor, usando a mesma credencial, agirá de forma diferente.
Como mitigar:
Baseline comportamental (IA/UEBA): Utilizar soluções de segurança que apliquem Inteligência Artificial e Análise de Comportamento (UEBA - User and Entity Behavior Analytics) para criar um baseline do comportamento normal de cada identidade não humana.
Monitoramento de desvios: O sistema deve ser capaz de detectar anomalias em tempo real. Por exemplo:
Uma conta de serviço que normalmente só lê dados, de repente tenta excluir um banco de dados.
Uma chave de API usada apenas no Brasil, subitamente, é usada para fazer login de um país da Europa Oriental.
Um script que roda à noite, de repente, é ativado durante o horário comercial.
Resposta automatizada: Ao detectar uma anomalia de alto risco, a resposta deve ser imediata, como bloquear a conta ou isolar o recurso, antes que o dano se espalhe.
Transformando risco em resiliência com a Tecnocomp
A proliferação de identidades não humanas é uma consequência direta da inovação, mas não precisa ser uma vulnerabilidade fatal. Ignorar esse risco silencioso não é uma opção, é uma falha estratégica que pode custar milhões em perdas de dados e paralisações operacionais.
As empresas precisam de uma estratégia que vá além das ferramentas tradicionais, orquestrando processos, visibilidade e automação para gerenciar o ciclo de vida completo dessas identidades.
É aqui que a Tecnocomp faz a diferença. Nossa abordagem estratégica integra as soluções mais avançadas de gestão de identidades e detecção de ameaças, garantindo que sua empresa possa inovar com segurança.
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